Salve Geeks, People Inc. — a gigante de mídia antes chamada Dotdash Meredith — anunciou um acordo de licenciamento de IA com a Microsoft durante a divulgação dos resultados do terceiro trimestre da controladora IAC.
O acordo com a Microsoft
Pelo pacto, a People Inc. será parceira de lançamento do marketplace de conteúdo da Microsoft, uma plataforma onde editores podem disponibilizar e cobrar pelo uso de seus materiais por provedores de IA. Esse é o segundo grande acordo de IA da empresa depois da parceria com a OpenAI no ano anterior.
O que é esse marketplace?
Marketplace de conteúdo é, na prática, um catálogo centralizado onde editores oferecem licenças e metadados dos seus conteúdos para compradores (no caso, sistemas e aplicações de IA). A Microsoft descreveu o modelo como pay-per-use — pagamentos por uso efetivo — ao contrário de contratos amplos que permitem ingestão irrestrita de dados.
Diferenças de modelo: pay-per-use vs all-you-can-eat
O CEO Neil Vogel descreveu o marketplace como "pay-per-use", ou seja, um modelo "à la carte" em que cada consulta ou unidade de conteúdo pode ser remunerada. Em contraste, o acordo com a OpenAI foi caracterizado por Vogel como mais próximo de um modelo "all-you-can-eat", com direitos mais amplos de acesso ao acervo.
- Vantagens do pay-per-use: remuneração mais direta e mensurável por conteúdo, transparência no uso e potencial para receitas contínuas.
- Vantagens do modelo amplo: integração mais simples para provedores de IA e escala rápida de acesso a conteúdo.
Queda do tráfego proveniente do Google
A divulgação do acordo veio junto com dados que mostram uma queda significativa do tráfego vindo do Google Search — responsável por 54% do tráfego da People Inc. há dois anos e que caiu para 24% no último trimestre, segundo números compartilhados com investidores pela própria companhia. A empresa aponta os chamados "AI Overviews" do Google como um fator que reduz visitas diretas aos sites de notícias.
Esses "AI Overviews" são resumos gerados pela busca que respondem a consultas dos usuários sem necessariamente encaminhar para a fonte original — um ponto de atrito entre editores e fornecedores de busca/IA.
Como a People Inc. está reagindo
Além de negociar licenças, a People Inc. vem adotando medidas técnicas para limitar rastreadores de IA: a empresa utiliza uma solução de infraestrutura web da Cloudflare que permite bloquear bots de scraping ou forçar acordos comerciais. Segundo Vogel, isso acelerou conversas com vários players de IA e trouxe “quase todo mundo para a mesa”.
Relação com o Google
Vogel criticou publicamente o Google por usar o mesmo bot de rastreamento tanto para o índice de busca quanto para recursos de IA, argumento que ele afirmou impedir editores de bloquear sua ação seletivamente — um tema abordado em cobertura da TechCrunch. A People Inc. afirma buscar que seu conteúdo seja "respeitado e remunerado".
Impacto financeiro
A IAC informou que a receita digital da People Inc. cresceu 9%, alcançando US$ 269 milhões no trimestre, com marketing de performance e licenciamento registrando crescimentos de 38% e 24%, respectivamente. A empresa também citou a aquisição do publisher Feedfeed como parte da estratégia de expansão de audiência e ofertas comerciais.
O que muda para leitores, criadores e desenvolvedores
Para leitores, a maior negociação entre editores e provedores de IA pode significar respostas mais precisas e citações melhores nas interfaces de IA — ou, do outro lado, menos conteúdo livremente indexado caso optem por bloquear rastreadores. Para criadores e publishers, a lição prática é reforçar modelos diversificados de receita (assinaturas, licenciamento, parcerias).
Exemplo prático
Imagine um usuário perguntando ao Copilot sobre uma receita de bolo: se o Copilot consumir conteúdo licenciado da People Inc., ele pode oferecer um resumo com citação e link para a matéria original; sem licença, o usuário pode receber um resumo sem referência direta, e o veículo perde a visita e possíveis receitas de anúncios.
Perguntas frequentes
- Isso resolve o problema do declínio de tráfego? Não imediatamente. Licenciamento pode gerar nova receita, mas não substitui totalmente visitas diretas; depende dos termos e da adoção dos serviços de IA.
- A Microsoft pagará mais que a OpenAI? People Inc. não divulgou termos financeiros do acordo; Vogel afirmou preferência por qualquer modelo que remunere adequadamente o conteúdo.
- Outros editores devem seguir o mesmo caminho? Alguns já negociam licenças ou usam bloqueios técnicos; estratégias variam conforme audiência e portfólio de conteúdo.
O cenário de conteúdo e IA está em rápida evolução: acordos como este e medidas técnicas mostram que editores estão tentando recuperar controle e renda sobre o que produzem — enquanto plataformas de IA, buscadores e publishers buscam novos equilíbrios comerciais. A tendência é de mais negociações e ajustes nas próximas rodadas de resultados e anúncios.
